sexta-feira, 29 de abril de 2011
Felicidade
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Não escreverei versos chorosos, cantando tristezas infinitas,
amores impossíveis, saudades dolorosas,
paixões trágicas e não correspondidas.
Tenho a vocação para a felicidade.
Ser feliz não me traz sentimento de culpa.
Não preciso da tristeza para justificar a inutilidade da vida.
Não preciso morrer e ir ao céu para encontrar a felicidade.
Quero-a e tenho-a neste espaço terreno do aqui e do agora.
A felicidade, tal e qual o amor, está dentro de mim
E transborda em ternuras, em melodias,
em carinhos, em alegrias, em cantos e encantos.
Sou feliz e não preciso me justificar.
Sorrio sem ver passarinho verde.
Não tenho medo de ser feliz.
Faço minha estrela brilhar.
Sem receio dos encontros, desencontros,
encantos e desencantos que o amor me diz.
Contrariedades? Eu as tenho.
E quem não as tem na vida secular ?
Escassez de dinheiro? Nem é bom falar
Amores não correspondidos? Separações?
Rejeições? Saudades incuráveis?
Carinhos reprimidos, ternuras guardadas,
sem a contra parte do outro?
Eu tenho aos montões.
Sou a rainha das perdas, necessárias ao meu crescimento.
Contudo quem não soube a sombra não sabe a luz.
E num livro de matemática existencial
juntei todos esses problemas insolúveis,
com as respostas nas últimas páginas.
Mas pra que me debruçar
sobre eles, procurando a solução
se a própria vida me conduz
a resposta final?
Sem medo de ser feliz vou por aqui e por ali
por onde os caminhos, as trilhas,
Os atalhos me levarem, traçando meu rumo.
Às vezes com alguma tristeza,
mas quem disse que felicidade
é o contrário de tristeza?
Tristeza é só uma momentânea falta de alegria!
É, amigo, amanhã é sempre um novo dia
E quando a infelicidade passar por aqui,
minhas malas estarão prontas
para eu ir por ali.
Vocação para a Felicidade, por Carlos Drumond de Andrade
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